terça-feira, 23 de março de 2010

Manifesto Contra o Retrocesso


Juazeiro do Norte/CE, 23 de março de 2010.

Ao Ministro da Cultura,
ao Secretario de Cultura do Estado,
ao Prefeito de Juazeiro do Norte,
a Câmara Municipal,
aos artistas e a população de Juazeiro do Norte.

Qual seria a função da cultura? Qual seria a função do artista?
As respostas para estas perguntas são inúmeras, eu ou você poderíamos escrever laudas e laudas e cada um que lê este documento iria escrever outras dezenas completamente diferentes. Agora a pergunta é:
Qual o função do governo federal, estadual e municipal na Sociedade?
Qual é a função das secretárias de cultura estaduais e municipais?

Nós sinceramente acreditamos que uma das funções seja compartilhar as necessidades dos artistas para juntos com o poder público, pensar, criar, desenvolver ações e projetos culturais que favoreçam a maior parte da população da cidade.

Pois bem, eis que Juazeiro do Norte, a segunda cidade mais importante do Ceará, eixo principal da região conhecida como Cariri, com uma população estimada em 242.139 habitantes, teve recentemente um estranho e lamentável retrocesso, o Governo Municipal, sem nenhum tipo de convocação ou satisfação com os artistas e população, simplesmente quer extinguir a Secretária de Cultura Municipal e transformá-la em um mero departamento da Secretária de Turismo e Romarias. Essa não é a primeira vez que a cidade assiste a ações de políticos, em atrelar a Cultura a Secretarias de Educação, ou Esporte, ou Turismo Religioso. Em gestões passadas, a responsabilidade ficou atrelada na pasta da educação. Funcionou? Não, não funcionou. Frustou!

O que fica mais absurdo neste Ato e se torna contestável é acontecer num governo que se denomina Governo da Revolução Democrática. Um governo que deveria ser constituído por pessoas de mentes abertas, com conhecimento, sensibilidade e uma postura contrária a todos anteriores. Recorrer ao mesmo erro de gestões passadas e criticadas em épocas de militância é afrontar todos os artistas. A cultura é parte da sociedade e seu desenvolvimento, depende também de cuidado pelo poder público.

Como uma cidade considerada “celeiro cultural” encara uma Ação como essa? Com Re-Ação, temos que reagir, temos que criticar e se unir. Esta é uma medida que nos renega articulações estaduais e federais, porque o Ministério da Cultura esta cada vez mais atuante, ações, editais, projetos, incentivos, fóruns, plenárias e encontros. E quem garante que essas articulações chegarão a nós sem uma Secretaria específica.

Tempos atrás, a Secretaria de Cultura do Estado percorreu as cidades do Ceará, divulgando e convidando os municípios a aderirem ao Sistema Nacional de Cultura (SNC) e o Plano Estadual de Cultura. Ressaltando a importância de um órgão específico para a gestão cultural, com dotação orçamentária própria. Na ocasião dos 184 municípios cearenses, 171 assinaram o protocolo de intenções do SNC, comprometendo-se, entre outras competências, a participar da definição de planos e ações públicas para a cultura em todo o país. Juntando-se a “luta” para se chegar a 1% o orçamento cultural nos municípios. Juazeiro esteve presente e construiu também seu Plano de Cultura, mas a atual gestão tomou este documento durante a transição das Secretarias e quando do Planejamento para ações da gestão dessa pasta?

Desse movimento nossa cidade caminhou em passos lentos e limitou-se a realizar as conferências municipais, mesmo sem força nas articulações com artistas e com a secretaria de cultura, realizou projetos que distribui uma verba aqui outra acolá para grupos ou eventos, como se cachês esporádicos resolvessem questões eminentes para a produção e fomento da cultura.

Neste momento queremos nos fazer ouvidos. Pois as seguintes questões têm de ser respondidas e refletidas:

- Como uma cidade do porte de Juazeiro do Norte limita uma secretaria de suma importância para uma coordenação?

- Como uma cidade com a produção cultural tradicional e contemporânea tão latente e pulsante perde assim extra-oficialmente, um veículo de comunicação e interlocução entre artistas com o poder público?

Esta carta/manifesto tem caráter político, mas apartidário e deseja comunicar a população do Cariri que atual crise do Governo chega a Cultura e da fragilidade que nos encontraremos sem uma Secretaria em nossa Cidade. Queremos também que nossos direitos como cidadãos nos possam ser dignos pela gestão do Prefeito Sr. Santana e que o mesmo revogue esta decisão pela classe artística e pela população de Juazeiro do Norte.

Aproveitamos também que este novo momento que se inaugura, a exigir desta administração que as discussões de políticas públicas de nossa Secretaria passem de forma democrática com a participação do Fórum de Defesa da Cultura de Juazeiro que a partir deste momento instala-se criado pelos que aqui assinam:

Aline Sousa – Bailarina e estudante de Educação física
Alysson Amancio – coreógrafo, bailarino, professor universitário e presidente da Associação Dança Cariri
Dakini – Coreógrafa da Dakini Cia de dança e estudante de Teatro
Edival Dias - Arte-Educador e membro do Coletivo Camarada
Fanka – Educadora
Gil – Presidente da Quadrilha do GIL e Ponto de Cultura
Jaiane Diniz - Bailarina e estudante de Educação física
João Alves – Representante do Movimento LGBT do Grupo GALOSC
João Batista Cavalcante – bailarino
Jota Junior Santos – Produtor Cultural e Gestor da Associação Dança Cariri
Luciana Andreza Araujo - Bailarina
Luciana Malti – Decoradora e cidadã de Juazeiro
Luciany Maria – Fisioterapeuta, Psicanalista em formação e tesoureira da Associação Dança Cariri
Luis Carlos – membro do Grupo GALOSC
Luiza Lubeck – Produtora Cultural
Manuela Arruda de Mattos – Universitária, estagiária da biblioteca pública pela Secult
Mari Eli Alves Bezerra – Realizadora em Audiovisual, proponente do Curso de Formação de produtores culturais premiado pelo Mais Cultura
Maria Dias Menezes – Realizador em Audiovisual e Educadora
Orlando Pereira, Realizador em audiovisual e Artista Visual
Renan Motta – Ator
Socorro Silva – Bailarina
José Clerton de Oliveira Martins - Comissão Cearense de Folclore e ProDança

terça-feira, 16 de março de 2010

BR 116 em Temporada no IV Festival BNB de Artes Cênicas.


Amigos,
Alysson Amancio Companhia de Dança
Apresentando o Espetáculo "BR 116" , dia 17 Juazeiro do Norte/Ce, dia 20 Sousa/PB, e dia 25 Fortaleza.CE . Espetáculo Premiado pelo V edital de Incentivo às artes do Governo do estado do Ceará e pelo Prêmio Nacional de Dança Klauss Vianna/2008.
Divulguem...........................................................................

segunda-feira, 1 de março de 2010

O Corpo e o Tempo


Essa semana completando 31 anos, e recebendo na Associação Dança Cariri a Professora e bailarina Carioca incrivelmente talentosa, Priscilla Teixeira, de 49 anos, comecei a refleti sobre o corpo artístico e o envelhecimento. Durante toda a minha vida cresci ouvindo o velho discurso de que bailarino, coreógrafo, acrobata, atletas e todas essas outras profissões onde o corpo é o instrumento ativo e direto de trabalho, tinham tempo profissional extremamente curto. Idéia verdadeira no aspecto que todo e qualquer trabalhador, seja ele um gari ou um médico anestesista, se ele não entender o mundo contemporâneo e as mudanças cotidianas que ele precisa adaptar-se com certeza sua vida profissional vai ter um limite de existência e facilmente será engolido pela crueldade do mercado.
É óbvio, que falando de corpo, estamos diante de um deterioramento natural ao longo dos anos, inevitavelmente vamos perdendo o tônus muscular, nosso sistema ósseo vai ficando cada vez mais fragilizado e infelizmente não podemos comprar um novo fêmur, um novo ísquio ou uma nova escapula nos supermercados. Porém é preciso ser disciplinado, antenado e cuidar desse corpo-instrumento com atividades físicas, alimentação adequada e hábitos saudáveis. Já ultrapassamos a primeira década do século XXI e há mais de 30 anos acompanhamos uma carreira de uma mulher ícone do mundo Pop chamada Madonna que é o exemplo maior de que o sexo feminino não necessita ser um corpo frágil e principalmente que a idade não é empecilho para nenhuma limitação de movimento, seja para homens ou mulheres.
A busca da inteligência é algo fundamental para se viver no mundo, não podemos permanecer inertes ou ignorantes e por exemplo insistir em um movimento que não temos mais propriedade para executa-lo, e o fato do corpo ir perdendo sua veemência também não significa dizer que precisamos abandonar o nosso oficio, apenas que precisamos nos adaptar e perceber todas as milhões de possibilidades de desempenha-lo. Um ginasta pode virar técnico, um bailarino pode virar critico de dança, coreógrafo, professor de dança, ou melhor ainda um bailarino pode continuar sendo um bailarino. Hoje a dança contemporânea proporciona aos interpretes inúmeras formas, maneiras e técnicas de movimentos, inclusive a ausência de movimento, pois para a dança contemporânea o mais importante não é como o corpo se movimenta e sim o porquê, qual o conceito e a finalidade dessa comunicação.
Martha Graham, bailarina e coreógrafa norte-americana, relevante nome da dança moderna, subiu aos palcos até os 78 anos de idade como bailarina e coreografou até os 91, idade do seu falecimento. No Ceará, uma das bailarinas mais conceituadas do estado, chamada Wilemara barros, tem 46 anos trabalha na Cia Dita, viaja o mundo inteiro e continua em pleno vigor físico nas suas performances.
Diante do avanço da área da medicina, fisioterapia, educação física, saúde em geral, além da física, da filosofia, antropologia, literatura, temos um aparato de ciências que nos fornecem suporte para a condução da nossa profissão. No entanto acredito particularmente que a principal fonte de força, energia, para a continuidade do trabalho corporal, é o amor, a paixão, o interesse, a curiosidade, embora todas essas palavras pareçam um alinhamento de clichês, vejo o avanço da idade como somente mais um obstáculo diante dos muitos que temos que enfrentar no nosso dia-a-dia. E barreiras não devem nos frear apenas nos desacelerar para voltarmos a estrada com mais estabilidade e segurança.
Para o homem e o seu corpo não existem limites, cada ser impõe o seu ou a ausência dos mesmos.

Foto: Martha Graham