quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Vá ao Teatro


A Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte/CE
Promove:
Projeto "Venha ao meu Teatro"
Espetáculos gratuitos todas as semanas de Quinta à Sabado
de Novembro à Março de 2010
no Teatro Municipal Marquise Branca
O Primeiro Grupo a se apresentar no Projeto:
Alysson Amancio Companhia de Dança
com o Espetáculo "BR 116"
Dias: 26, 27 e 28 de Novembro
e 03,04 e 05 de Dezembro de 2009
sempre às 20 Horas.
Divulguem!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Histeria, todo mundo sente


Histeria, Todo mundo sente!

18 de Novembro de 2009. 15:00 horas. Um Magote de pessoas na Rua da Matriz de Barbalha em Frente à Escola de Artes Violeta Arraes Gervaiseu já deixava explicito a curiosidade de ver “Hysteria” do Grupo XIX de Teatro de São Paulo convidado da 11º Mostra SESC De Cultura. Qual seria o atrativo, a temática da peça? Ou a Criação do Grupo Paulista?
O bordão de “desliguem seus celulares”, foi dito ainda na rua, acompanhado de uma operação inicial de entrada, homens na fila, adentram primeiro, já nos espera as personagens abandonadas ao tempo, cada uma em movimentação particular. Logo em seguida chegam o restante da platéia, as mulheres. Que são estrategicamente colocadas na cena. 18 de Novembro de 1897. Começa de fato o Espetáculo.
Sanatório, o Sobrado cedido pela Escola de Artes, se mostra perfeito para tal apresentação. Arquitetura antiga, paredes claras, portas grandes, janelas altas e as atrizes se apropriam de tal forma que para nós parece que o Diretor Luiz Fernando Marques concebeu sua criação exatamente naquele lugar.
“Hysteria” é um espetáculo que retrata o universo feminino, sua evolução física, histórica e social no mundo. As cinco personagens: “Nini, Hercilia, MJ, Clara e Maria Tourinho”, contam seus casos de vida, seus sonhos frustrados, suas dores, alegrias, suas instabilidades emocionais, que as levaram a serem largadas num espaço para doentes mentais todavia a cena toma amplitude e ganha outro viés pois as mulheres da platéias, são obrigadas a interagir diretamente, pelos toques, pelos gestos, pela voz e por ações. Reação imediata de todos, mulheres e homens que embora separados por uma espécie de parede de vidro, também se afligem por medo do inesperado.
As cenas pouco a pouco se estabelecem, com as vozes, personalidades e interpretações singulares de cada atriz de Hysteria. As ações são globais, e é muito bonito de ver não somente a hora da personagem da vez, mas também a sutileza que cada atriz cuidadosamente construiu e delicadamente esparrama na cena, estando ou não no foco.
A platéia feminina de Barbalha surpreende ao embarcar sem pudores ou receios nos comandos e na regras estabelecidas no Sanatório. Doutor Mendes, o responsável geral pelo aprisionamento e liberdade de todas nunca aparece, só manda ordens, seria o Doutor o sistema padrão da sociedade que impõe e castra cada um que fuja do modelo convencional? Ou seriam nós homens ali sentados inertes. Cada um de nós, um Doutor Mendes diferente, mas que em algum momento em nossas vidas mesmo em pleno século Vinte e hum em algum momento ainda nos sentimos superiores a mulher?
Diz um velho ditado popular “De perto ninguém é normal”, outro “que atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados”. Durante a apresentação respondendo ao comando de uma das personagens uma garota da platéia fez uma oração e aproveitou para agradecer a Deus, a oportunidade de estar ali, muitos riram!!! Aplausos para o Grupo XIX, ninguém queria estar ali, todos realmente se sentiram num Sanatório, todos refletiram sobre suas condições pessoais. Cristianismo a parte, a menina da platéia não errou em agradecer a ocasião de estar ali. Foi realmente um grande privilégio poder assistir a primorosa Obra de Gisela Millá, Janaina Leite, Juliana Sanches, Raissa Gregorio, Luiz Fernando Marques e Sara Antunes.
Todo mundo foi feito para sentir.
Que bom que sentimos!

Alysson Amancio

Charivari



Segundo o Filosofo alemão Nietzsche “Aqueles a quem a maioria das pessoas identificava como representantes da mais pura e impressionante das atitudes – com mais completo e radical repúdio aos prazeres da vida apresentavam-se, como um exemplo de uma forma extremada da orgulhosa vontade de poder”. Esse me parece ter sido o grande mote, falar de hipocrisias bastante comuns no cotidiano do sistema social, porém suavizando pelo alvoroço, jogos, brigas, metáforas e brincadeiras a proposta do Espetáculo “Charivari” do Grupo Ninho de Teatro, apresentado no fim da tarde do dia 16 de Novembro de 2009 nas ruas da pacata e tradicional cidade de Barbalha na Programação da 11º Mostra SESC de Cultura.

Fazer “Teatro de Rua” é sempre um grande desafio, pois todos na roda, elenco, equipe técnica, publico parados e passantes estão sujeitos a vulnerabilidade do acaso. É acima de tudo para os interpretes um árduo trabalho de conquista, uma extrema capacidade de saber se projetar no espaço, corpo e voz, em um ângulo finito de 360º graus. Algo nem sempre alcançado por muitos Grupos, mas que o diretor Duilio Cunha soube de forma arquitetônica construir muitíssimo bem na sua cena.

Se utilizando de uma maquiagem, figurinos, cenários e adereços chamativos e caprichosos, o diretor traz para o caos da cena aberta a simetria e a segurança de partituras cuidadosamente estruturadas que ao mesmo tempo que divertem, informam, cutucam as mascaras usuais dos seres “normais”, deixa claro que teatro bom é teatro bom. E que a rua, a comedia, as diversas experiências ou inexperiências do elenco não precisam vir a tona e ser pretexto de um trabalho cênico mal cuidado.

Desvelo, aliás é a chave de Charivari, a comitiva pomposa de Viúva, defunto, padre, diabo, sacristão, beata, bichos e tantos outros seres imaginados, puxados pelas curtas e agradáveis trilha sonoras executadas ao vivo pelos Zabumbeiros Cariris promovem na platéia um emaranhado de sentimentos, que perpassam desde os pudores de ver simulações de pênis, peitos e vaginas, até a demasiada euforia de poder ver simulações de pênis, peitos e vaginas, brincando, roçando, transando, instigando o imaginário popular que esta presente em cada ser humano, ate mesmo nos “sossegados” barbalhenses e transeuntes daquela hora feliz na Mostra Aldeia Barbalha.

È um grande deleite poder ver a estréia do trabalho do Diretor Duilio em terras cearenses, e o amadurecimento dos atores locais, que triunfantemente se permitiram sair do lugar comum, e deram vez a novos caminhos possíveis das artes cênicas. Tomara então que Charivari ultrapasse as dificuldades comuns de se fazer teatro e ganhe grandes, pequenas, estreitas e largas ruas brasileiras levando a alegria do texto de Lourdes Ramalho que para ela e para alguns traz uma visão especifica do mundo medieval, mas para mim, traz algo que se passa bem ali muito mais perto do que a gente acredita.

Alysson Amancio

domingo, 15 de novembro de 2009

A Engenharia de Doralinas e Marias

A engenharia de Doralinas e marias

O espetaculo "Doralinas e marias" convidado pela Mostra SESC de Cultura em uma caixa cênica montada no auditório do Memorial Padre Cícero em Juazeiro do Norte.CE no último dia 14 de Novembro de 2009. Encheu os olhos do público presente que teve o privilegio de assisti tal apresentação. Desde a entrada ao nos depararmos com a primeira imagem do simples, porém extremamente delicado cenário de Zuarte Junior já somos informados que belas imagens possivelmente seriam apreciadas naquelas próximas cenas. Fato consumado quando os quatro interpretes suavemente adentram o palco e rompem as tensões iniciais do inesperado, sultilmente eles sinalizam que a Obra começou.
As primeiras palavras da atriz Meran Vargens, de notável presença e maturidade cênica, dirigidas à platéia sobre qual rostos permeiam os seus imaginários, cabe bem como prólogo e ao mesmo tempo induz, convida, instiga todos a um possivel verbo, "Permitam-se", abram todos os seus poros, pois este espetáculo de memórias, que para a diretora Cecília Raiffer retrata o Universo feminino, por expelir seus medos, instabilidades emocionais, sonhos, sofrimentos e prazeres são na verdade muito mais abrangente, pois esses sentimentos são comuns a todo ser humano. Essa peça é para todos, homens, mulheres, gays, jovens, adultos e idosos, pois todos nós somos carentes e vulneraveis ao ato de viver.
A segurança inicial de Meran Vargens alegra aos espectadores e ao mesmo tempo assusta por antecipar um possivél desnivelamento dos atores em detrimento as diferença entre os interpretes, pensamentos pré-conceituosos logo serenados nos primeiros dez minutos iniciais, pois fica claro a rica colaboração individual e como a arteira, inteligente e sofisticada Cecília soube aproveitar e colocar na cena o melhor que cada um podia dar naquele momento da criação. Cada um deles, Adriana Amorim, Daniele França, Luiz Renato e Mera Vargens têm o seu momento ápice, cada um emociona por um gesto, um olhar, uma respiração precisa, que horam brilham sozinhas e horas dialogam no coletivo do elenco.
Em "doralinas e Marias", tudo é na medida certa, tudo parece ser coreografado, tudo conversa, desde a luz briosa crida pelo interprete e iluminador luiz Renato, até os toques do piano ao fundo da cena propostos por Luciano Bahia. Talvez o Folder tenha texto por demais explicativo, talvez algumas partituras não precisassem ser repetidas, ou porventura não, até isso esteja alinhado, o texto sublinha o que já está em negrito, e a cena se repete para ser como um mantra que sirva para elevar o pensamento dos menos acostumados a tais metaforas, para que todos sem exceção saiam do espetáculo em devaneios, refletindo sobre a tal realidade do tempo. Afinal "quando diz que quer ir, já foi..."

Alysson amancio

15 de Novembro de 2009