segunda-feira, 1 de março de 2010
O Corpo e o Tempo
Essa semana completando 31 anos, e recebendo na Associação Dança Cariri a Professora e bailarina Carioca incrivelmente talentosa, Priscilla Teixeira, de 49 anos, comecei a refleti sobre o corpo artístico e o envelhecimento. Durante toda a minha vida cresci ouvindo o velho discurso de que bailarino, coreógrafo, acrobata, atletas e todas essas outras profissões onde o corpo é o instrumento ativo e direto de trabalho, tinham tempo profissional extremamente curto. Idéia verdadeira no aspecto que todo e qualquer trabalhador, seja ele um gari ou um médico anestesista, se ele não entender o mundo contemporâneo e as mudanças cotidianas que ele precisa adaptar-se com certeza sua vida profissional vai ter um limite de existência e facilmente será engolido pela crueldade do mercado.
É óbvio, que falando de corpo, estamos diante de um deterioramento natural ao longo dos anos, inevitavelmente vamos perdendo o tônus muscular, nosso sistema ósseo vai ficando cada vez mais fragilizado e infelizmente não podemos comprar um novo fêmur, um novo ísquio ou uma nova escapula nos supermercados. Porém é preciso ser disciplinado, antenado e cuidar desse corpo-instrumento com atividades físicas, alimentação adequada e hábitos saudáveis. Já ultrapassamos a primeira década do século XXI e há mais de 30 anos acompanhamos uma carreira de uma mulher ícone do mundo Pop chamada Madonna que é o exemplo maior de que o sexo feminino não necessita ser um corpo frágil e principalmente que a idade não é empecilho para nenhuma limitação de movimento, seja para homens ou mulheres.
A busca da inteligência é algo fundamental para se viver no mundo, não podemos permanecer inertes ou ignorantes e por exemplo insistir em um movimento que não temos mais propriedade para executa-lo, e o fato do corpo ir perdendo sua veemência também não significa dizer que precisamos abandonar o nosso oficio, apenas que precisamos nos adaptar e perceber todas as milhões de possibilidades de desempenha-lo. Um ginasta pode virar técnico, um bailarino pode virar critico de dança, coreógrafo, professor de dança, ou melhor ainda um bailarino pode continuar sendo um bailarino. Hoje a dança contemporânea proporciona aos interpretes inúmeras formas, maneiras e técnicas de movimentos, inclusive a ausência de movimento, pois para a dança contemporânea o mais importante não é como o corpo se movimenta e sim o porquê, qual o conceito e a finalidade dessa comunicação.
Martha Graham, bailarina e coreógrafa norte-americana, relevante nome da dança moderna, subiu aos palcos até os 78 anos de idade como bailarina e coreografou até os 91, idade do seu falecimento. No Ceará, uma das bailarinas mais conceituadas do estado, chamada Wilemara barros, tem 46 anos trabalha na Cia Dita, viaja o mundo inteiro e continua em pleno vigor físico nas suas performances.
Diante do avanço da área da medicina, fisioterapia, educação física, saúde em geral, além da física, da filosofia, antropologia, literatura, temos um aparato de ciências que nos fornecem suporte para a condução da nossa profissão. No entanto acredito particularmente que a principal fonte de força, energia, para a continuidade do trabalho corporal, é o amor, a paixão, o interesse, a curiosidade, embora todas essas palavras pareçam um alinhamento de clichês, vejo o avanço da idade como somente mais um obstáculo diante dos muitos que temos que enfrentar no nosso dia-a-dia. E barreiras não devem nos frear apenas nos desacelerar para voltarmos a estrada com mais estabilidade e segurança.
Para o homem e o seu corpo não existem limites, cada ser impõe o seu ou a ausência dos mesmos.
Foto: Martha Graham
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