sábado, 29 de maio de 2010

Somos todos Assimétricos




Convidado por uma amiga, Dani Queiróz, que trabalha na Instituição, fui quinta-feira passada dia 27/05/2010 ser jurado da Mostra de Artes competitiva das APAES regionais que aconteceu no Teatro Patativa do Assaré no SESC de Juazeiro do Norte. Na verdade todo o meu conhecimento dessa tão famosa instituição se resumia praticamente ao significado da sua sigla Associação de Pais e Amigos de excepcionais.
Ao longo da minha vida toda acabei criando certa aversão a competições, sobretudo quando se diz respeito às artes. Pois quem pode afirmar com convicção de que aquela dança, aquela apresentação foi melhor que a outra, a parti de que critérios, e qual é a reação de um artista ao ser apontado como executor de uma apresentação que fica em ultimo lugar, por exemplo... Enfim, para mim competição combina com esporte. É outra “vibe”!
Pois bem, resolvi aceitar o convite da Instituição, e fui ser jurado para o meu deleite, privilegio e felicidade. Foi uma feliz e fabulosa surpresa ter participado desse evento. Em momento algum senti a sensação deplorável que existe nos festivais que são competitivos no mundo da dança. Muito pelo contrario, o teatro completamente lotado e todo mundo, todas as cidades concorrentes que ali se encontravam pareciam torcer por todo mundo.
O vencedor da competição das APAES Regional irá disputar com as APAES estaduais e de lá as vencedoras irão para Santa Catarina, é óbvio que todas queriam ganhar, mas o melhor de tudo era que ficava bem nítido que isso não era o mais importante do evento. Cada pai, cada professor, cada coordenador, cada espectador daquele teatro estava sinceramente alegre pelo fato deles estarem ali, subir naquele palco, tocar, cantar, recitar e dançar aquilo já era uma grande e linda vitória.
Todavia o fato desses artistas da APAE terem uma deficiência intelectual, na minha opinião, não desmereceu em nenhum momento o trabalho artístico, muito pelo contrario eles mostraram virtuosidades técnicas que muitas pessoas e artistas ditos “normais” não conseguem fazer.
Em muitos momentos das apresentações fiquei completamente arrepiado, em outros tive vontade de chorar e outros de ri. Sensações mágicas que as artes cênicas proporcionam e que há bastante tempo eu não me permitia ao assistir um espetáculo, por estar sempre com um olhar critico, analisador das qualidades e defeitos daquela concepção cênica.
Sair do teatro refletindo sobre essa sensação, será que já criamos pensando no que agrada, será que temos que agradar? Será que não podemos ser mais humanos na vida e também na Arte? Será que não deve nos permitir a imperfeição e perceber que a beleza estar realmente na assimetria, afinal todos nós, brancos, negros, ricos ou pobres, sem nenhuma exceção, somos todos assimétricos.
O Belo é a verdade. Não importa se essa verdade esteja ou não nos padrões da sociedade. E acima de tudo precisamos respeitar a beleza do outro. Respeitar as diferenças dos outros é o melhor caminho para a humanidade, seja no intelecto, na cor, na classe social , no sexo, ou nas artes.
Parabéns a todos da APAE que corajosamente contribuem dia-a-dia para a construção dessa “sociedade mais justa e igualitária”.

Alysson Amancio

segunda-feira, 10 de maio de 2010

EU SOU ARTISTA. SERÁ?


EU SOU ARTISTA. SERÁ?

Essa semana de 03 a 08 de Maio de 2010, a Região do Cariri foi realmente presenteada no que se refere a trabalhos de corpo. Só do meu pequeno e restrito conhecimento eram 05 oficinas todas gratuitas e com profissionais extremamente qualificados e renomados no Brasil e internacionalmente como é o Caso do Carlos Simione, Co fundador do Lume Grupo de Teatro da Universidade de Campinas. SP.
Quando falo do meu restrito conhecimento me refiro a real impossibilidade de estar a cerca de tudo o que acontece no Cariri, são muitas áreas, muitas linguagens, muitas instituições e equipamentos que estão ativos e preocupados nessa gestão cultural.
Estamos em um momento verdadeiramente privilegiado na nossa região. São varias iniciativas de capacitação, informação e formação para crianças, jovens e adultos. Entretanto lamentavelmente as pessoas no Cariri, e principalmente das três principais cidades Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha onde acontece a maioria dos eventos, ainda não valorizam e nem aproveitam o momento efervescente como deveriam. Essa inércia, ausência e muitas vezes descaso com as ações culturais me assustam profundamente. E diferem completamente das minhas experiências de vida.
Quando eu era adolescente em meados da década de noventa no século passado (rsrrs) aqui no Juazeiro do Norte nós aspirantes a artistas não tínhamos nada, todas as políticas públicas e iniciativas privadas eram acontecimentos raríssimos. Os artistas trabalhavam totalmente de forma intuitiva, não havia nenhum Centro Cultural, nenhum Teatro, nenhuma instituição, nenhum curso superior de artes, não havia tantos projetos e oficinas gratuitas. E quando havia algo era uma festa, uma briga, não sobravam vagas.
Na primeira década do século XXI quando eu já morava na Capital do Estado Fortaleza e posteriormente quatro anos na cidade do Rio de Janeiro, todas as pessoas que eu tinha contato, tinham fome de informação, eram completamente conscientes que esse processo de formação e capacitação é constante e fundamental na vida de qualquer profissional, no Sudeste especialmente todo curso, aula, oficinas, tudo é muito caro, em 2006, ultimo ano que morei no Rio, duas aulas de dança por semana no TEX Studio de Dança eram naquela época R$ 280,00 por mês. Não sei qual o preço atual. Informação vale ouro, o conhecimento é seu e ninguém toma, todo ser humano vale pelo que sabe. E as pessoas nos grandes centros têm isso muito claro nas suas cabeças.
É deprimente ver a Associação Dança Cariri promover 02 palestras no Evento da Semana D da Dança no Centro Cultural Banco do Nordeste com Profissionais imensamente gabaritados e termos um publico de menos de 10 % da capacidade do Teatro. É triste o Projeto de Extensão em Teatro da Escola de Artes Violeta Arraes Gervaiseau promover um Curso de Corpo e voz para professores de artes e afins e ter 04 pessoas no 1º dia de aula.
É estarrecedor ver os espetáculos locais e de fora com a platéia repleta de assentos vagos. Debates, seminários, exposições e galerias de arte com publico ínfimo.
Sei bem que a formação cultural na sociedade é um processo lento, que educação e cultura nunca foram prioridade para os políticos brasileiros, e que comparando com outros interiores do nosso pais o Cariri está muito bem obrigado.
Mas não acho que devemos nos nivelar com os que estão abaixo de nós, e sim com os que estão acima.
Vejo muitas pessoas, jovens, meninos e meninas caririenses circulando se intitulando como atores, atrizes, bailarinos, coreógrafos, artistas plásticos, dramaturgos. Pois bem dizer que é artista, é muito fácil. Ser artista meu caro é completamente diferente.
O artista é um ser pensante, preocupado com o mundo e com todas as questões do seu momento presente. Não podemos chamar de artista alguém alienado, limitado, colonizado e que não esteja completamente inteirado com o planeta.
O verdadeiro artista não é aquele que busca apenas o foco de luz no palco italiano, e sim aquele que conversa que olha no olho, que sabe da sua insignificância, mas mesmo assim não se acostuma com a imensidão de lixo jogado pelas ruas da cidade de Juazeiro do Norte. Ceará.

Foto: Carlos Simioni Foto: Tina Coelho