segunda-feira, 10 de maio de 2010

EU SOU ARTISTA. SERÁ?


EU SOU ARTISTA. SERÁ?

Essa semana de 03 a 08 de Maio de 2010, a Região do Cariri foi realmente presenteada no que se refere a trabalhos de corpo. Só do meu pequeno e restrito conhecimento eram 05 oficinas todas gratuitas e com profissionais extremamente qualificados e renomados no Brasil e internacionalmente como é o Caso do Carlos Simione, Co fundador do Lume Grupo de Teatro da Universidade de Campinas. SP.
Quando falo do meu restrito conhecimento me refiro a real impossibilidade de estar a cerca de tudo o que acontece no Cariri, são muitas áreas, muitas linguagens, muitas instituições e equipamentos que estão ativos e preocupados nessa gestão cultural.
Estamos em um momento verdadeiramente privilegiado na nossa região. São varias iniciativas de capacitação, informação e formação para crianças, jovens e adultos. Entretanto lamentavelmente as pessoas no Cariri, e principalmente das três principais cidades Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha onde acontece a maioria dos eventos, ainda não valorizam e nem aproveitam o momento efervescente como deveriam. Essa inércia, ausência e muitas vezes descaso com as ações culturais me assustam profundamente. E diferem completamente das minhas experiências de vida.
Quando eu era adolescente em meados da década de noventa no século passado (rsrrs) aqui no Juazeiro do Norte nós aspirantes a artistas não tínhamos nada, todas as políticas públicas e iniciativas privadas eram acontecimentos raríssimos. Os artistas trabalhavam totalmente de forma intuitiva, não havia nenhum Centro Cultural, nenhum Teatro, nenhuma instituição, nenhum curso superior de artes, não havia tantos projetos e oficinas gratuitas. E quando havia algo era uma festa, uma briga, não sobravam vagas.
Na primeira década do século XXI quando eu já morava na Capital do Estado Fortaleza e posteriormente quatro anos na cidade do Rio de Janeiro, todas as pessoas que eu tinha contato, tinham fome de informação, eram completamente conscientes que esse processo de formação e capacitação é constante e fundamental na vida de qualquer profissional, no Sudeste especialmente todo curso, aula, oficinas, tudo é muito caro, em 2006, ultimo ano que morei no Rio, duas aulas de dança por semana no TEX Studio de Dança eram naquela época R$ 280,00 por mês. Não sei qual o preço atual. Informação vale ouro, o conhecimento é seu e ninguém toma, todo ser humano vale pelo que sabe. E as pessoas nos grandes centros têm isso muito claro nas suas cabeças.
É deprimente ver a Associação Dança Cariri promover 02 palestras no Evento da Semana D da Dança no Centro Cultural Banco do Nordeste com Profissionais imensamente gabaritados e termos um publico de menos de 10 % da capacidade do Teatro. É triste o Projeto de Extensão em Teatro da Escola de Artes Violeta Arraes Gervaiseau promover um Curso de Corpo e voz para professores de artes e afins e ter 04 pessoas no 1º dia de aula.
É estarrecedor ver os espetáculos locais e de fora com a platéia repleta de assentos vagos. Debates, seminários, exposições e galerias de arte com publico ínfimo.
Sei bem que a formação cultural na sociedade é um processo lento, que educação e cultura nunca foram prioridade para os políticos brasileiros, e que comparando com outros interiores do nosso pais o Cariri está muito bem obrigado.
Mas não acho que devemos nos nivelar com os que estão abaixo de nós, e sim com os que estão acima.
Vejo muitas pessoas, jovens, meninos e meninas caririenses circulando se intitulando como atores, atrizes, bailarinos, coreógrafos, artistas plásticos, dramaturgos. Pois bem dizer que é artista, é muito fácil. Ser artista meu caro é completamente diferente.
O artista é um ser pensante, preocupado com o mundo e com todas as questões do seu momento presente. Não podemos chamar de artista alguém alienado, limitado, colonizado e que não esteja completamente inteirado com o planeta.
O verdadeiro artista não é aquele que busca apenas o foco de luz no palco italiano, e sim aquele que conversa que olha no olho, que sabe da sua insignificância, mas mesmo assim não se acostuma com a imensidão de lixo jogado pelas ruas da cidade de Juazeiro do Norte. Ceará.

Foto: Carlos Simioni Foto: Tina Coelho

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