quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Charivari



Segundo o Filosofo alemão Nietzsche “Aqueles a quem a maioria das pessoas identificava como representantes da mais pura e impressionante das atitudes – com mais completo e radical repúdio aos prazeres da vida apresentavam-se, como um exemplo de uma forma extremada da orgulhosa vontade de poder”. Esse me parece ter sido o grande mote, falar de hipocrisias bastante comuns no cotidiano do sistema social, porém suavizando pelo alvoroço, jogos, brigas, metáforas e brincadeiras a proposta do Espetáculo “Charivari” do Grupo Ninho de Teatro, apresentado no fim da tarde do dia 16 de Novembro de 2009 nas ruas da pacata e tradicional cidade de Barbalha na Programação da 11º Mostra SESC de Cultura.

Fazer “Teatro de Rua” é sempre um grande desafio, pois todos na roda, elenco, equipe técnica, publico parados e passantes estão sujeitos a vulnerabilidade do acaso. É acima de tudo para os interpretes um árduo trabalho de conquista, uma extrema capacidade de saber se projetar no espaço, corpo e voz, em um ângulo finito de 360º graus. Algo nem sempre alcançado por muitos Grupos, mas que o diretor Duilio Cunha soube de forma arquitetônica construir muitíssimo bem na sua cena.

Se utilizando de uma maquiagem, figurinos, cenários e adereços chamativos e caprichosos, o diretor traz para o caos da cena aberta a simetria e a segurança de partituras cuidadosamente estruturadas que ao mesmo tempo que divertem, informam, cutucam as mascaras usuais dos seres “normais”, deixa claro que teatro bom é teatro bom. E que a rua, a comedia, as diversas experiências ou inexperiências do elenco não precisam vir a tona e ser pretexto de um trabalho cênico mal cuidado.

Desvelo, aliás é a chave de Charivari, a comitiva pomposa de Viúva, defunto, padre, diabo, sacristão, beata, bichos e tantos outros seres imaginados, puxados pelas curtas e agradáveis trilha sonoras executadas ao vivo pelos Zabumbeiros Cariris promovem na platéia um emaranhado de sentimentos, que perpassam desde os pudores de ver simulações de pênis, peitos e vaginas, até a demasiada euforia de poder ver simulações de pênis, peitos e vaginas, brincando, roçando, transando, instigando o imaginário popular que esta presente em cada ser humano, ate mesmo nos “sossegados” barbalhenses e transeuntes daquela hora feliz na Mostra Aldeia Barbalha.

È um grande deleite poder ver a estréia do trabalho do Diretor Duilio em terras cearenses, e o amadurecimento dos atores locais, que triunfantemente se permitiram sair do lugar comum, e deram vez a novos caminhos possíveis das artes cênicas. Tomara então que Charivari ultrapasse as dificuldades comuns de se fazer teatro e ganhe grandes, pequenas, estreitas e largas ruas brasileiras levando a alegria do texto de Lourdes Ramalho que para ela e para alguns traz uma visão especifica do mundo medieval, mas para mim, traz algo que se passa bem ali muito mais perto do que a gente acredita.

Alysson Amancio

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