quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Histeria, todo mundo sente


Histeria, Todo mundo sente!

18 de Novembro de 2009. 15:00 horas. Um Magote de pessoas na Rua da Matriz de Barbalha em Frente à Escola de Artes Violeta Arraes Gervaiseu já deixava explicito a curiosidade de ver “Hysteria” do Grupo XIX de Teatro de São Paulo convidado da 11º Mostra SESC De Cultura. Qual seria o atrativo, a temática da peça? Ou a Criação do Grupo Paulista?
O bordão de “desliguem seus celulares”, foi dito ainda na rua, acompanhado de uma operação inicial de entrada, homens na fila, adentram primeiro, já nos espera as personagens abandonadas ao tempo, cada uma em movimentação particular. Logo em seguida chegam o restante da platéia, as mulheres. Que são estrategicamente colocadas na cena. 18 de Novembro de 1897. Começa de fato o Espetáculo.
Sanatório, o Sobrado cedido pela Escola de Artes, se mostra perfeito para tal apresentação. Arquitetura antiga, paredes claras, portas grandes, janelas altas e as atrizes se apropriam de tal forma que para nós parece que o Diretor Luiz Fernando Marques concebeu sua criação exatamente naquele lugar.
“Hysteria” é um espetáculo que retrata o universo feminino, sua evolução física, histórica e social no mundo. As cinco personagens: “Nini, Hercilia, MJ, Clara e Maria Tourinho”, contam seus casos de vida, seus sonhos frustrados, suas dores, alegrias, suas instabilidades emocionais, que as levaram a serem largadas num espaço para doentes mentais todavia a cena toma amplitude e ganha outro viés pois as mulheres da platéias, são obrigadas a interagir diretamente, pelos toques, pelos gestos, pela voz e por ações. Reação imediata de todos, mulheres e homens que embora separados por uma espécie de parede de vidro, também se afligem por medo do inesperado.
As cenas pouco a pouco se estabelecem, com as vozes, personalidades e interpretações singulares de cada atriz de Hysteria. As ações são globais, e é muito bonito de ver não somente a hora da personagem da vez, mas também a sutileza que cada atriz cuidadosamente construiu e delicadamente esparrama na cena, estando ou não no foco.
A platéia feminina de Barbalha surpreende ao embarcar sem pudores ou receios nos comandos e na regras estabelecidas no Sanatório. Doutor Mendes, o responsável geral pelo aprisionamento e liberdade de todas nunca aparece, só manda ordens, seria o Doutor o sistema padrão da sociedade que impõe e castra cada um que fuja do modelo convencional? Ou seriam nós homens ali sentados inertes. Cada um de nós, um Doutor Mendes diferente, mas que em algum momento em nossas vidas mesmo em pleno século Vinte e hum em algum momento ainda nos sentimos superiores a mulher?
Diz um velho ditado popular “De perto ninguém é normal”, outro “que atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados”. Durante a apresentação respondendo ao comando de uma das personagens uma garota da platéia fez uma oração e aproveitou para agradecer a Deus, a oportunidade de estar ali, muitos riram!!! Aplausos para o Grupo XIX, ninguém queria estar ali, todos realmente se sentiram num Sanatório, todos refletiram sobre suas condições pessoais. Cristianismo a parte, a menina da platéia não errou em agradecer a ocasião de estar ali. Foi realmente um grande privilégio poder assistir a primorosa Obra de Gisela Millá, Janaina Leite, Juliana Sanches, Raissa Gregorio, Luiz Fernando Marques e Sara Antunes.
Todo mundo foi feito para sentir.
Que bom que sentimos!

Alysson Amancio

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