No
fim de semana de Finados nasceu mais um importante evento de dança no Cariri, o
Festival Caldeirão das Danças (CDD), no Crato/CE. A realização de Festivais acompanha a
história da dança nos últimos trinta do
Brasil. Estes eventos favorecem a circulação de espetáculos, o encontro de
profissionais, amigos e principalmente a troca de saberes que acontecem nas
oficinas, nos debates, conversas, mostras de vídeos ou no próprio ato de apreciação das obras. Este arcabouço de atividades que acontecem durante um
determinado tempo e espaço é que fazem os festivais serem excelentes
componentes que somam e fortalecem os processos formativos em dança. Marcia Strazzacappa (2000) nos diz que
"precisamos ver, descobrir e redescobrir o mundo para podermos ter
coisas para dizer. Se os festivais têm esse poder de nos permitir "ver
coisas", os festivais sem dúvida contribuem para nossa formação de
artistas".
(oficina de Silvia Moura no Festival CDD)
A despeito da estruturação geral dos
festivais serem semelhantes é importante sublinhar que cada evento tem a sua
singularidade e atende a critérios que outros podem ou não se preocupar. O
Caldeirão das Danças já nasceu com algumas peculiaridades bastante especiais,
os espetáculos aconteceram na Praça Siqueira Campos, o que possibilita uma
maior democratização da dança, visto que a meu ver atingem transeuntes e
possivelmente pessoas que não tem o habito de se dirigir a um teatro.
Foi bastante significativo a bailarina
e coreógrafa Silvia Moura ter sido uma das atrações convidadas visto que Silvia
foi uma das primeiras profissionais de Fortaleza que começaram a ministrar
oficinas de dança no Crato na década de 1980, quando o intercambio da dança
interior/capital era algo bastante incipiente.
(Silvia Moura)
O evento agregou pessoas de diversas
experiências da dança, alguns profissionais e outras crianças que apenas estão
começando na dança. Algo bastante positivo pois possibilita que o aluno da
dança ainda iniciante ja tenha a oportunidade de participar de atividades dançantes além
dos espetáculos de "final de ano" de suas escolas que geralmente é a única
oportunidade que dispõe.
Organizar um evento é sempre uma
complexa e árdua tarefa. Seja de eventos que tenham longa trajetória ou
primeiras edições, como é o caso do Caldeirão. Todavia é sempre importante
lançar luz também sobre as fragilidades para que elas possam ser dirimidas
ao longo dos anos. Num evento de vasta programação é preciso ser criterioso
quanto ao tempo de cada apresentação, o ideal é que sejam longas apenas
companhias profissionais, pois trabalhos ainda em processo de maturação de
longo tempo podem cansar o publico.
E um dos objetivos mais importantes de um festival deve ser sempre por meio da
diversidade artística conseguir mais apreciadores para as artes.
Embora as apresentações tenham sido numa
praça seria interessante oferecer cadeiras de plásticos para o publico. Mesmo
que o numero e assentos seja insuficiente o publico idoso necessita de um
ambiente mais confortável. Obviamente, estamos todos os sujeitos a imprevistos,
mas também é sempre interessante ser pontual no horário marcado. A titulo de sugestão,
talvez aumentar o numero de dias de apresentações seja melhor do que prolongar
no horário, já que muitas pessoas dependem de transporte publico.
É fundamental deixar claro que todos os
pontos frágeis aqui elencados são mínimos perto da grandiosidade que foi o acontecimento do Caldeirão das
Danças. Parabéns a todos da equipe de produção, ao Movimento ‘O Crato tem
Dança’ e especialmente a Edilania Rodrigues e Junnior Pessoa, eu sei bem o
quanto é difícil produzir eventos de arte, e sobretudo de dança no
Ceara/Brasil.
E parabéns ao Cariri cearense, por
ganhar mais um espaço de fomento as artes a cultura. Nos últimos a dança tem
crescido demasiadamente nesta região. É uma pena que ainda falta apoiadores do
poder publico e na iniciativa privada. Mas devemos cobrar com afinco que isso
aconteça nas próximas edições, pois com certeza 2014 foi apenas o primeiro de
muitas edições que virao. Vida longa ao Caldeirão das Danças. O coletivo é
sempre mais forte. Unir as pessoas da Dança além de prazeroso é essencial para
o fortalecimento dos nossos processos formativos e criativos.
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