sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Rosa Primo encanta





Parafraseio uma frase quase clichê, para perguntar: “o que pode a dança?” Recém saído do Teatro do Centro Cultural Banco do Nordeste-Cariri,  onde através da Bienal Internacional da Dança do Ceara assisti o solo ‘Encanta o meu jardim’, respondo: a dança pode muito.

Depois de muitos anos sem dançar a bailarina e professora Rosa Primo retorna aos palcos com o solo supracitado. Um trabalho delicadíssimo que de forma sutil e silenciosa vai paulatinamente nos seduzindo até nos conquistar por inteiro e para nossa surpresa de forma arrebatadora.

‘Encanta o meu jardim’ é um trabalho cênico paradoxal. Ao mesmo tempo em que economiza no som, nas cores e nas estruturas coreográficas padrões esbanja movimentações, poses, gestos e imagens corporais complexas que o corpo da intérprete forte, ágil e flexível operacionaliza de forma magistral.
O dialogo é harmônico, a luz de Walter Façanha é exatamente na medida, mostra a performer e se mostra sem a necessidade de se mostrar. E assim também foi o figurino de Andréia Pires e Aldeiza Moura.

No Release a artista traz as palavras “encanto e estranhamento”, realmente é difícil não concordar com tais definições, o espetáculo para mim lança luz a uma pluralidade de sensações que encantam e estranham em alguns momentos boas e noutras nem tanto.

A musica de Roberto Carlos ‘O astronauta’ primeiramente causa quase uma ojeriza por ser tão contraria ao que a experiência estética estava nos dando, mas depois a letra nos aponta para a primeira visualidade da cabeça inflável da abertura do trabalho.
Uma das maravilhas das artes cênicas são estas infinitas subjetividades que cada sujeito aciona ao vivencia-la, na cena final a explosão de areias no palco me lembraram barulho de mar e só no fim descubro que era punhados de arroz.


Desejo que Rosa Primo não permita, mas hiatos na sua carreira dançante, pois a sua carreira bem sucedida de docente universitária ao meu ver contribuiu para um belo retorno artístico, inteligente, educativo e principalmente emocionante, nos mostrando que a dança como arte pode e muito contribuir para um mundo mais sensível, humano e igualitário.

alysson amancio

PS: para quem não viu o trabalho hoje em Juazeiro do Norte, amanha "Encanta meu Jardim" estará no Crato compondo a Programação da Bienal Internacional de Dança do Ceara-De par em par. 


Um comentário:

  1. Do meu lado… Assim…
    Te agradeço.
    Pelo carinho.
    Comigo sim, mas muito além de mim.
    Sou uma pequena parte desse Jardim.
    Talvez uma parte um pouco maior que a sua.
    Talvez...
    E diante desse seu texto...
    Minha parte ficou bem menor.
    Quero dizer que o Encanta o meu Jardim só foi possível porque a dança é possível. A única coisa que fiz foi estar presente quando enfim me chamaram...
    Você me chamou.
    E eu como bailarina que sou, daquele tempo que sou... Obedeci!
    Obedeço!
    Obrigada por existir.
    Beijos

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